As vezes eu vou dormir com uma dor no peito, desejando não ter que acordar no outro dia, mas não tem jeito... uma hora eu tenho que levantar da cama, e por mais que eu não esteja tão simpático comigo mesmo, eu tenho que olhar meu rosto no espelho e pra aquela cara inchada de quem dormiu a noite toda e acordou cansado de novo. Depois desse confronto é só ligar o automático e fazer o necessário pra continuar levando a dia. As vezes a máquina da "tilt", principalmente nos momentos em que se para pra pensar. Só ai eu que eu me dou conta do quanto minha vida é frustrada e o quanto eu já deixei de sonhar ao longo desses meus poucos anos de vida (quantos não seriam os sonhos perdidos se fossem muitos os anos). Não posso reclamar da vida... afinal vivo. Não se destrata assim quem sempre lhe deu oportunidade de existir, mas minha vida não tem sido nada do que eu imaginei. Nenhum sonho, nenhum amor, nenhum motivo... não pude escolher nada até agora. Talvez eu não tenha direito sobre minha vida, talvez seja até mesmo prisioneiro dessa condição afinal, há alguma forma de existir sem vida? Uma coisa é certa: quando eu coloco essa dor de viver entre letras é como se estivesse vendo a cara da dor. Eu sei que ela não vai doer menos por isso, nem vai deixar de me maltratar tanto, o que eu tenho, pelo menos, é uma forma razoável de assumir que viver dói e de doer por mais um dia.
Ainda assim é no mínimo ingênuo conceber uma boa forma de encarar a vida crua. Talvez o fenômeno da vida seja parecido com uma luta em que um pugilista sobe no ringue certo que vai apanhar até o nocaute e ainda assim não desiste de arriscar alguns socos. Os socos do seu adversário doem bem mais. Deus me preserve da ingrata missão de achar um sentido pra vida. Eu só sei que vivo porque não tenho como fugir disso ainda que corte meus pulsos. O mistério de existir está muito longe da minha cabeça tão miúda...
Então vou ficar por aqui...
Contemplando a imensidão.