terça-feira, 26 de outubro de 2010

Pouca Vergonha

 Todo mundo nasceu nú e isso é uma verdade inegável. Ninguém teve o direito de cobrir as vergonhas nos primeiros segundos de vida, até por que nesse momento ninguém tem noção do que é vergonha. A roupa e a vergonha vem um pouco depois. Tempo suficiente pra gente descobrir que nosso corpo é tão feio que a exposição do tal chega a ser indecente (pelo menos eu acho que é assim que pensam). Com o tempo é que nos cobrem de roupas e a medida que vão nos cobrindo de roupa nos cobrem também de vergonha, nem sei bem quem ganha o que com isso e também nem faço idéia de como começou. Há quem diga que o problema todo vem do Édem e da maldita dentada na maçã vermelha. Tal hipótese não me convence muito até por o Édem em si não me convence de jeito nenhum. Eu particularmente desconfio que isso tudo começou quando neguinho descobriu que podia vender roupa e enrriquecer fazendo isso, mas o que eu penso pouco importa, o que importa é que, de fato, ninguém vive sem roupa por causa da vergonha que a ausência dela traz. Entretanto não se pode relacionar a quantidade de roupa a timidez de um pessoa,(a regra de três pode não ser direta) pois eu, por exemplo, embora seja adepto do jeans e camisa sem muito luxo me acho mais idôneo do que alguns cavalheiros de terno, colete e gravata. Enfim, se a roupa nos traria a cura para a exposição vergonhosa e nos traria por fim a vergonha que precisamos pra viver em sociedade por que será que existe tanta gente bem vestida e nenhuma vergonha na cara? Um dia eu faço igual a Rita... não igual a Rita do Chico lógico, porque essa não tinha nem roupa nem vergonha. Se Deus quiser eu também quero ser índio, viver pintado de verde num eterno domingo e tomar banho de sol, banho de sol... Mas enquanto, com uma bermuda velha e rasgada que adoro, eu digito essas linhas entre a pausa da leitura de um e outro livro, alguma moça, que provavelmente nunca leu um livro, compra uma bermuda parecida com a minha cujo preço consumiria meu salário do mês do outro lado da cidade. Eu teria vergonha de pagar tão caro numa roupa. Bem... a discussão sobre os hábitos de moda e consumismo vai por outro caminho da minha inquietação primária e merece uma outra observação... de qualquer forma eu me sentiria melhor pelado do que vestindo certos tipos de roupa. No meu caso eu teria vergonha de estar vestido.

Mas isso já renderia mais do que me aquiesce comentar agora.
O que me resta é continuar no meu observatório
Contemplando a imensidão...

Um comentário:

Jéssika. disse...

Que fiquemos nús então. Das roupas, dos medos, das ansiedades e das vergonhas. Que fiquemos nús então! Quem não cubramos os sexos, e que despidos desse anseio de viver, vivamos todos os dias assim... contemplando a imensidão.