É incrível como qualquer acontecimento por mais simplório ou absurdo que seja tem a capacidade de despertar nosso pensamento. Dia de 5ª feira, como de costume, eu volto tarde da noite da universidade. Subo no ônibus, atravesso a catraca, procuro um lugar. Hoje dei de cara com uma senhora atracada com uma maçã do amor daquelas caprichosamente carameladas. Desculpe-me se a minha visão é um tanto preconceituosa, mas uma maçã daquele jeito, coberta com aquele doce tão vermelho, com aquele granulado colorido, aqueles dois palitos coloridos cravados, aquilo ali merecia uma menininha de quatro anos lambendo.
- Tu queres maçã Babi?
- Eu queres papai!
Enfim... depois de ser atraido por aquela maçã e sentar bem atrás da senhora que a portava, comecei a observar com meu jeito discreto a dificuldade que aquela velha tinha para comer a maçã, também pudera, ela usava dentadura. Você já viu uma pessoa que usa dentadura comendo uma maçã do amor? Não? Não queira ver. É uma coisa agoniante tanto pra quem assiste quanto pra quem sofre o momento. O sofrimento deve ser parecido com beijar de língua usando um aparelho odontológico extra oral. O caramelo grudava na dentadura e ela tentava tirar com a língua ao passo que conversava alguma coisa com a colega ao seu lado que fingia a entender enquanto tosquenejava bonito. Eu ainda imaginei: Onze horas da noite não é um horário complicado pra arrumar uma maçã do amor? Será que não faz mal comer isso essa hora? Essa mulher não tem medo de quebrar essa chapa no meio?
É ai que você começa a pensar... por que a gente so se satisfaz com as coisas mais difíceis? Eu mesmo nunca namorei com nenhuma garota de minha rua, quarteirão, bairro. Por que a gente sempre quer as paixões mais complicadas? Aquelas impossíveis? Aquelas que não valem a pena? Por que diabos a gente se apaixona por quem não merece nossa atenção? É muito complicado... Parece que somos atraídos pela dificuldade. É possivel que você viage o mundo todo e por fim se case com sua vizinha, e o pior, seja feliz. Pode ser que você leia todos os livros da Library of congress em Washington e uma tirinha do Angeli, ou um pedaço de um folheto de cordel te desperte finalmente uma idéia pra mudar o mundo. Mas ai o que a gente diz pra Babi?
- Eu queres maçã, Papai!
- Não Babi. Você vai comer banana que é mais fácil.
Se eu bem me lembro, um moço mineiro chamado Mário uma vez versou:
“Se as coisas são intangíveis... ora! Não é motivo para não querê-las...Que triste os caminhos, se não fora a presença distante das estrelas!” (Né Quintana?)
Na verdade eu devo estar falando besteira no lugar de ir buscar a maçã do amor que deixei escorregar de tanto caramelo. O que eu posso fazer além de ficar no meu observatório comtemplando a imensidão?
2 comentários:
Caraaaca... muito bom...a gente realmente sempre procura o mais dificil :T... ao invés de achar um vizinho, a galera vai achar um nos EUA... hehehe... talvez as dificuldades realmente tornem a vida mais interessante =D
Vinícius, é marília, de letras, naza... Vou te seguir, tá?
Adorei o conteúdo deste canto!
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